domingo, 30 de novembro de 2008

"Uma pobreza envergonhada"

Depois de uma tarde subaproveitada (muitas leituras e poucas conclusões) chego a casa e na televisão fala-se de pobreza, uma "pobreza envergonhada", uma pobreza que prolifera no nosso país, tanto que já o próprio Presidente da República denuncia a sua existência.

A que é que se deve isto? Pode-se afirmar que é fruto desta negra crise conjuntural (não será mais correcto dizer "estrutural"?). Eventualmente, haveria fundamentos para responsabilizar as mais diversas entidades... O Governo, não este em particular, mas toda a classe política que tanto ilude os portugueses com a sua demagogia e os desaponta com os seus erros e que, ao fim ao cabo, poucas soluções cria , as grandes multinacionais que tornam a vida dos trabalhadores precária, incerta...
Apesar de tudo isto, hoje deixo o tema em aberto noutra perspectiva, num plano interior...
Não será muitas vezes o estilo de vida com tendências megalómanas que as pessoas adoptam que conduz a este tipo de constrangimentos? Note-se que não me refiro à pobreza experenciada pelos idosos que recebem miseráveis pensões, nem àqueles que recebem salários que não asseguram uma existência digna! Falo de um grupo que vive acima das suas possibilidades, gastando aquilo que não tem, endividando-se para satisfazer os seus ímpetos consumistas...

Uma perspectiva diferente para reflectir...

FK

sábado, 25 de outubro de 2008

Falar sobre mim é algo incómodo

Falar sobre mim é algo incómodo, porque não sei o que sou, nem o que quero ser. Talvez seja aquilo que os outros dizem, ou seja, simplesmente, o que sou. Por isso, falar de mim é falar dos outros, de todos que me rodeiam, porque sou produto de várias influências - por isso, os meus desabafos são o acumular de vários ares. É como ver de vários prismas, mas sentado no mesmo espaço, convivendo comigo mesmo e com as minhas ambiguidades e… frustrações.

Mas um olhar faz-me hoje ser o teu olhar! Aquele olhar que continua aqui cravado no meu coração, não cravou pelo teu corpo, cuspido pela natureza, nem pelos teus belos olhos, nem mesmo as tuas formas anatómicas, que deixa-me sempre num estado de irracionalidade. Foste tu com a tua ambiguidade estranha que me levou a olhar para ti, naquele dia que nem sei qual, mas foi nesse dia que deixei de te ver e passei a observar - cada passo teu, cada olhar teu, cada palavra tua, cada reflexão tua. Nada foi feito com racionalidade, mas apenas com sedução.
Olhares estranhos e entroncados pela paixão levaram a nossa ingenuidade, que vem da pureza dos nossos corações, e transforma o meu e o teu em nosso, levando-nos pela ignorância a dentro. Porque ignorantes queremos estar, mesmo que isto significa viver na ilusão da realidade, edificando um mundo do surreal, onde os verdadeiros sentimentos imperam, onde nada é nada, onde o tudo é possível… Isto será a utopia? Não, porque sonhar é ampliar a realidade, transformar o impossível em possível. Aí, seremos cegos por opção.
Isto sou eu, porque tu, especialmente, transformaste-me num louco que procura uma cura, que poderá nunca existir.

Também o sol do Oriente iluminou a minha vida, porque o teu olhar rasgado e a tua inteligência foram, e são, dois pilares na minha vida. Sempre te vi como a soberba, genial e humilde, qualidade que tanto estimo em ti. Quantos grandes vivem na grandeza da ilusão, mas tu fugiste sempre de tal situação. Crescemos como indivíduos, e cimentámos a nossa amizade (outrora estranhos, agora cúmplices) que nos leva a viver a mesma utopia, onde o nacionalismo não existe, algo a que sempre demonstraste recusa. Hoje me pergunto quando começámos a nossa amizade. Não sei, porque ela brota de dentro dos nossos corações, e ao longo do tempo cuidámos dela. E tu e eu temos sabido cuidar desta bela flor no nosso coração.

Tu, meu contraste e cúmplice dos meus actos, sempre fomos black e white company. Ainda me lembro das nossas figuras, desfiguradas pelo tempo - os dois amigos sempre juntos para os bons e maus actos. A amizade também é isso, ou será apenas os bons actos? Não me revejo no tempo com mágoas das minhas acções, porque vivemos o nosso tempo, sem prejudicar ninguém de forma irreversível. Ainda hoje estás aqui comigo, mesmo quando estás ausente, mesmo quando não te vejo ou estou fora, mesmo quando fico só. Tu também és a minha utopia.

Sou socialista, com tendência para a anarquia como bom ou mau marxista. Tu és um socialista que defende o estado de providência social, votas partido socialista. Eu não voto, porque a bom jeito da anarquia, isto prova duas visões e concepções do mundo distintos. Amizade também é isso, contradições, mas respeito pala diferença do outro, sem nunca desrespeitar a nós próprios.

Não foi uma que entrou na minha vida, perpetuando a sua presença na minha vida. Hoje, mais uma vez, mostraste a tua utilidade na minha vida, mas nem sempre foste simples (como se amizade fosse fácil). Nem sempre foste doce (como se amizade fosse sempre doce), mas nunca serei o mesmo depois de lidar contigo e com a tua forte personalidade, que muitas vezes me levou a um estado de loucura, que passava depois de cinco minutos. Não poderia ver os teus choros, a tua tristeza, porque nunca tive uma cúmplice como tu… ainda bem que na tua consciência não existe Deus.

Segundo casal, e o merdinha estarão sempre a associados ao meu clube da amizade, cada um com o seu jeito peculiar, começando com o grande Pato, alguém com quem tanto partilhei e que falava tão pouco, visto que era parco em palavra outrora… até conhecer a doce Joaninha, que deu a volta ao mundo do Pato. Ela colocou uma nova realidade no nosso mundo, criando o laço da amizade colectiva - não te esqueci jovem calma e louca, e as tuas viagens amorosas, as tuas surpresas, os teus conselhos, ao longo neste tempo têm sido um belíssimo companheiro. Vocês foram uma boa surpresa na minha vida, uma utopia é criada pelas pessoas e vocês também transformam a minha utopia, em vossa.

Descalçaste-me de todas as defesas e levaste-me até a terra do cumbé, do cheiro intenso da terra, da chuva no verão, das riquezas étnicas, e tua grandeza é a simplicidade em acção, hoje ainda sonho quando o sonho aparecer na nossa terra, na nossa mãe, porque somos todos de lá, ou quando nós levarmos o sonho a nossa a terra, de carro ou de outra forma, desde que o sonho cheguei.

Amizade é o prolongamento da nossa existência e o quanto mais temos mais existimos, e o hoje tantos são os amigos novos que me rodeiam e eu os rodeios, falei de mim, sem falar de mim, porque eu sou assim.
Único

quarta-feira, 13 de agosto de 2008


Cravam as garras e marcam território
Espezinham, sufocam, impedem
Subvertem princípios, viciam o sistema
Estas deploráveis feras nada temem
Excepto quando se deparam com o dilema
De pagarem as acções no purgatório

Estes seres desprovidos de compaixão
Exploram sem aparente razão
Sempre em busca do cifrão

O que fazer?
Permitir, ignorar, desistir?
As chagas tornar-se-ão mais profundas
E não haverá para onde fugir

Mas, unidas pela convicção
Irradiando paixão
As outrora presas agora lutarão
Todos os que se sentiram subjugados
Serão finalmente vingados…
Os heróis da Revolução


FK

sábado, 28 de junho de 2008

Crónica de um jovem ingénuo



Minha Luanda das makas (1) grandes, onde até os cientistas socais são ultrapassados pelos insólitos casos, mas eu nascido nesta terra, onde todos somos cientistas, venho por este meio relatar um mujimbo (2). Após uns dias de ter aterrado na minha apaixonante Luanda, deparei-me com um facto deveras intrigante, vendedoras ambulantes transformadas em atletas de alta competição, já viram como a minha terra está, até as vendedoras querem chegar aos Jogos Olímpicos. Querem saber as razões? Espera tenham calma, como excelente especialista na matéria devo realizar o devido enquadramento dos factos, não acham o mesmo?
Eu, especialista das makas luandenses e dotado dos valores racionalistas e humanistas europeus, temos que falar destes valores cujos europeus se orgulham tanto, estava preparado para enfrentar todos os obstáculos desta mirabolante estória.
Continuando, todos os dias colocava minha cadeira no meio do quintal para observar as corridas. Farto da situação estranha perguntei à minha querida mãe, mesmo querida enfatizo para não haver dúvida na qualidade da minha kota, sobre as corridas em frente à nossa casa. Ela explicou-me que o governo de Luanda proibiu a venda fora das praças, por isso os polícias estavam em constante vigia. Puxa! A senhora minha mãe estava numa visão racionalista! Eu coloquei-me na posição das vendedoras. Olha agora os burgueses fazem leis para tentar asfixiar as classes populares, como belo marxista pensei na luta de classes subjacente a esta realidade, pela primeira vez estava a presenciar a resistência da classe oprimida, já imaginaram este facto?
Tenho a certeza que não é só por estas bandas que acontecem fenómenos deste tipo. Agora não havia dúvida, as senhoras estavam a ser obrigadas a praticar desporto, talvez o estado angolano tenha pretensão de seleccionar umas para os jogos internacionais, ou já estava a prevenir a obesidade, os kotas no parlamento mandam visão. Não pensem que me deixo levar por estas justificações baratas! Estas senhoras têm razão, devem continuar a lutar pelos seus problemas e aproveitar a oferta que os governantes lhes concedem, a de competir em grandes eventos. Aqui o racional cruza-se com o improvável, por isso nada de especular a actuação dos puros mangas (3).
Meus queridos leitores estavam à espera de um desfecho, claro que não porque o cronista procura o prisma do insólito, como a própria estória contada.

1 problemas
2 boato
3 patrão
Único

domingo, 22 de junho de 2008

Corpos desalmados

Ontem vos vi sobre as minhas ruas, becos e esquinas a venderem as vossas almas, perguntei-me se era o único que vos via, talvez por pura ingenuidade ou talvez por pensar numa temática banal da Lisboa dos nossos dias. Todos sabemos onde vocês ficam, param, vendem, prostituem, talvez numa linguagem mais rude seria mais fácil expressar o vosso emprego, mas que emprego, se a sociedade olha para as vossas vidas de forma cínica, preconceituosa, desrespeitadora, e ignorante.Elas também vendem prazeres para eles e elas, mas eles ou elas pagam com desprezo e frieza sobre as suas condições de vida, criando um pacto de ignorância entre nós e o Estado, talvez sejamos todos cínicos face à nossa realidade, ou talvez prefiramos ignorar a nossa consciência.Eu, Lisboa uma pessoa uma cidade, sei que vocês sabem como é que elas vivem, porque procuram nos seus corpos prazeres onde não há prazer, satisfação sexual onde não existe satisfação, no final pagam o vosso esquecimento. Pergunto-me como podemos procurar desejos em corpos frios, humilhados, explorados, pela vaidade do mundo consumista, onde a exploração é um imperativo categórico da minha Lisboa, porque eu sei que tu sabes onde elas param, eu sei que nós sabemos porque algumas vendem as suas almas.

Único

Prisioneiros de Lisboa


Quando os sons se vão e o silêncio impera, eu, Lisboa, escura pela luz que se vai e aquela que vem, sou tomada pelos meus prisioneiros que emergem das minhas sombras, ocupando cada metro de mim, sendo ruas vazias, becos sombrios e ruelas estreitas. Cada prisioneiro meu é um rosto, uma vida e uma história, alguns são obscuros e duros, e outros mais frios que a frieza, por causa das suas vidas desfeitas ou pelas vicissitudes do viver. Hoje sou cidade e metropolitana, porque suporto a mendicidade, a prostituição e toxicodependentes como situações normais. Alguns dizem que eles têm direito aos becos, às ruelas e aos cantos. Também podem vender os seus corpos nas minhas afamadas avenidas, enquanto os cantos e becos podem servir como salas de chutos. E eu, Lisboa, uma pessoa e uma cidade, sou culpada sem culpa, por ser este palco para a degradação de algumas vidas, apenas sei acolher sem perguntar os porquês e as razões. Mas sou lar dos sem abrigo, posto de prostitutas e sala para os toxicodependentes. Eu não sei ser outra prisão, onde todos são livres e acorrentados pelos desejos, prazeres, vícios e necessidades.
Único