segunda-feira, 13 de julho de 2009

Deleitam nos olhos negros
Lágrimas negras na negra
Escorrendo no chão negro
Descendo por terras negras
Negros os lençóis de lágrima
Belíssimos os rios nascem

Desaguam no coração sofrido
Formando lençóis aconchegantes
Que acolhem as tuas dores negras
Devastada na imensidão do vazio

Partiram nos teus belos rios
Desaguaram no teu coração

Lágrimas negras deixaram
Longe dos teus olhares
Sofrido coração acompanha-os

Só estás sem kianda surda
Na palidez da inércia ficaste
Evocas galundos de chiguilamento
Ficando com as dores eternas
Negra Lisboa acolhe negros meninos
Brincando negras brincadeiras de meninos
Nas esquinas, nos cantos e travessas negras
Nos bairros mundanos, sujos e porcos.

Dos subúrbios com odor de negritude
Dos negros meninos e das negras meninas
Marcadas de negras carícias
Trazidas pelas sirenes que soltam corridas

Nas vossas senzalas esquivam-se da chibata
Passado negro presente escuro e obscuro futuro
Vossos corações congelados de cegueira e escuridão
Olhos desaguam em mares negros de lágrimas

Inundam as senzalas de frias dores
Lágrimas negras escorrem no chão
Está aí corpo no chão, nas mãos dos capatazes
Negros a menos e negras a menos e negros fins

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Responsabilidade

A escola é o reflexo da sociedade ou está a sociedade reflectida na escola? Ambas as possibilidades estão em jogo… A escola vive o dilema de uma sociedade sem modelo, onde todos tentam mudar com boas reformas e boas intenções, porém o insucesso é certo. Os fracassos começam a moldar o sistema, contudo não podemos assistir inertes a esta deterioração, permitindo que as falhas se entranhem e contribuindo para o perpetuar desta instabilidade.
A escola, enquanto instituição, deve agir de forma concertada com os restantes agentes sociais no sentido de mitigar as problemáticas que afrontam a comunidade mais jovem, a falta de valores e de interesse ante a vida e a realidade circundante, o desconhecimento dos termos responsabilidade e persistência, o desrespeito pelos mais velhos, designadamente por aqueles que mais lhes dão, aqueles que lhes tentam transmitir toda a sua experiência e sabedoria, pais e professores. A responsabilidade que se imputa à escola pela degradação dos valores, pela crescente passividade dos jovens é a mesma que deve ser imputada a cada um de nós. De facto assume-se comummente que a escola é por excelência a instituição que deve criar alicerces para sustentar e orientar os jovens e não obstante tal presunção ter um fundo de verdade, a questão é que isso não pode ser motivo para que terceiros se alheiem de tal tarefa.
Mas que sociedade é a nossa? Quando se vai apurar responsabilidades a culpa não é de ninguém… É muito mais conveniente “sacudir” a responsabilidade do que admiti-la e encontrar soluções, caminhos alternativos, admitir o erro e voltar a olhar para o problema a partir de uma nova perspectiva.
Mais do que apurar responsabilidades pelas falhas cometidas há que encontrar soluções, unir esforços e edificar um sistema que oriente e fortifique a educação, o âmago da sociedade.
FK e Único