sábado, 25 de outubro de 2008

Falar sobre mim é algo incómodo

Falar sobre mim é algo incómodo, porque não sei o que sou, nem o que quero ser. Talvez seja aquilo que os outros dizem, ou seja, simplesmente, o que sou. Por isso, falar de mim é falar dos outros, de todos que me rodeiam, porque sou produto de várias influências - por isso, os meus desabafos são o acumular de vários ares. É como ver de vários prismas, mas sentado no mesmo espaço, convivendo comigo mesmo e com as minhas ambiguidades e… frustrações.

Mas um olhar faz-me hoje ser o teu olhar! Aquele olhar que continua aqui cravado no meu coração, não cravou pelo teu corpo, cuspido pela natureza, nem pelos teus belos olhos, nem mesmo as tuas formas anatómicas, que deixa-me sempre num estado de irracionalidade. Foste tu com a tua ambiguidade estranha que me levou a olhar para ti, naquele dia que nem sei qual, mas foi nesse dia que deixei de te ver e passei a observar - cada passo teu, cada olhar teu, cada palavra tua, cada reflexão tua. Nada foi feito com racionalidade, mas apenas com sedução.
Olhares estranhos e entroncados pela paixão levaram a nossa ingenuidade, que vem da pureza dos nossos corações, e transforma o meu e o teu em nosso, levando-nos pela ignorância a dentro. Porque ignorantes queremos estar, mesmo que isto significa viver na ilusão da realidade, edificando um mundo do surreal, onde os verdadeiros sentimentos imperam, onde nada é nada, onde o tudo é possível… Isto será a utopia? Não, porque sonhar é ampliar a realidade, transformar o impossível em possível. Aí, seremos cegos por opção.
Isto sou eu, porque tu, especialmente, transformaste-me num louco que procura uma cura, que poderá nunca existir.

Também o sol do Oriente iluminou a minha vida, porque o teu olhar rasgado e a tua inteligência foram, e são, dois pilares na minha vida. Sempre te vi como a soberba, genial e humilde, qualidade que tanto estimo em ti. Quantos grandes vivem na grandeza da ilusão, mas tu fugiste sempre de tal situação. Crescemos como indivíduos, e cimentámos a nossa amizade (outrora estranhos, agora cúmplices) que nos leva a viver a mesma utopia, onde o nacionalismo não existe, algo a que sempre demonstraste recusa. Hoje me pergunto quando começámos a nossa amizade. Não sei, porque ela brota de dentro dos nossos corações, e ao longo do tempo cuidámos dela. E tu e eu temos sabido cuidar desta bela flor no nosso coração.

Tu, meu contraste e cúmplice dos meus actos, sempre fomos black e white company. Ainda me lembro das nossas figuras, desfiguradas pelo tempo - os dois amigos sempre juntos para os bons e maus actos. A amizade também é isso, ou será apenas os bons actos? Não me revejo no tempo com mágoas das minhas acções, porque vivemos o nosso tempo, sem prejudicar ninguém de forma irreversível. Ainda hoje estás aqui comigo, mesmo quando estás ausente, mesmo quando não te vejo ou estou fora, mesmo quando fico só. Tu também és a minha utopia.

Sou socialista, com tendência para a anarquia como bom ou mau marxista. Tu és um socialista que defende o estado de providência social, votas partido socialista. Eu não voto, porque a bom jeito da anarquia, isto prova duas visões e concepções do mundo distintos. Amizade também é isso, contradições, mas respeito pala diferença do outro, sem nunca desrespeitar a nós próprios.

Não foi uma que entrou na minha vida, perpetuando a sua presença na minha vida. Hoje, mais uma vez, mostraste a tua utilidade na minha vida, mas nem sempre foste simples (como se amizade fosse fácil). Nem sempre foste doce (como se amizade fosse sempre doce), mas nunca serei o mesmo depois de lidar contigo e com a tua forte personalidade, que muitas vezes me levou a um estado de loucura, que passava depois de cinco minutos. Não poderia ver os teus choros, a tua tristeza, porque nunca tive uma cúmplice como tu… ainda bem que na tua consciência não existe Deus.

Segundo casal, e o merdinha estarão sempre a associados ao meu clube da amizade, cada um com o seu jeito peculiar, começando com o grande Pato, alguém com quem tanto partilhei e que falava tão pouco, visto que era parco em palavra outrora… até conhecer a doce Joaninha, que deu a volta ao mundo do Pato. Ela colocou uma nova realidade no nosso mundo, criando o laço da amizade colectiva - não te esqueci jovem calma e louca, e as tuas viagens amorosas, as tuas surpresas, os teus conselhos, ao longo neste tempo têm sido um belíssimo companheiro. Vocês foram uma boa surpresa na minha vida, uma utopia é criada pelas pessoas e vocês também transformam a minha utopia, em vossa.

Descalçaste-me de todas as defesas e levaste-me até a terra do cumbé, do cheiro intenso da terra, da chuva no verão, das riquezas étnicas, e tua grandeza é a simplicidade em acção, hoje ainda sonho quando o sonho aparecer na nossa terra, na nossa mãe, porque somos todos de lá, ou quando nós levarmos o sonho a nossa a terra, de carro ou de outra forma, desde que o sonho cheguei.

Amizade é o prolongamento da nossa existência e o quanto mais temos mais existimos, e o hoje tantos são os amigos novos que me rodeiam e eu os rodeios, falei de mim, sem falar de mim, porque eu sou assim.
Único

2 comentários:

Anónimo disse...

Bem mais profundo do que muito que é escrito por grandes autores... Faço tenções de continuar a vir ler mais trabalhos teus, e se algum dia quiseres editar um livro não te esqueças de me arranjar um autografado. ;)
Abraço, Cadilha

Unknown disse...

O tempo passa e a vida fluí, por entre muitas pessoas e coisas que vamos encontrando as boas distinguem-se pelas marcas e recordaçoes que deixam em nós.
Ser amigo nao é facil mas significa mas do que nos custa.
ser amigo é ser assim aquela pessoa que esta nem sempre de acordo connosco mas que nos leva a ver as coisas do seu ponto de vista nao querendo dizer que quer-nos impor o seu ponto de vista.

Ser amigo é uma viagem.
Avilo avilo...

Mantenhas.